Se você pegar casos de empresas que não crescem, tal como Ambev e Metal Leve, por exemplo, não há a mínima possibilidade de que essas ações valorizarem de forma consistente, caso contrário os múltiplos de preço, tal como Preço/Lucro, tenderiam ao infinito. Essas empresas são meras pagadoras de dividendos e só. Isso não é necessariamente ruim, desde que o dividend yield (DY) seja atrativo.
O valor de mercado dessas ações ao longo do tempo será movido de acordo com o ciclo na taxa de juros da economia. Nesse momento, com taxa Selic à 4,25%, investidores aceitam pagar mais caro pelas ações, mesmo que o nível de receita e lucro não tenha se alterado, pois apesar do DY esteja menor, ainda sim é melhor do que a renda fixa.
O DY da LEVE3 foi de aproximadamente 10% entre 2017 e 2018, mas naquela época a ação valia cerca de 40%-50% a menos do que hoje. Em 2020 o DY já deve cair para algo em torno de 5%-6%. Ainda vale a pena perante uma renda fixa de 4,25% de rendimento bruto, e 3,3%-3,6% de rendimento líquido de imposto.
Ou seja, se antes da queda nos juros as pessoas aceitavam pagar um preço/lucro (P/L) de 10 por empresas de baixo crescimento, passarão a aceitar um P/L de 15 ou mais. Essa aceitação de um DY cada vez menor continuará a medida que houverem mais quedas na taxa de juros. O que acontecerá então se a taxa de juros voltar ao ciclo de alta ?
Esse baixíssimo DY passará a não ser mais atrativo e as pessoas aos poucos vão retirar dinheiro dessas ações e se movimentarem para investimentos com rendimento maior (e talvez até de menor risco, que é o caso da renda fixa). O preço da ação será derrubado pela pressão vendedora, até chegar o momento em que o equilíbrio possa ser encontrado novamente.
Esse mesmo movimento acontece com as ações americanas nesse momento. Com juros cada vez menor, o DY de grandes pagadoras de dividendos está girando em torno de 2,5% à 3%. Parece pouco, mas muito atrativo perante a taxa básica de juros de 1,5% ao ano. Acontece que, historicamente falando, a média de taxa básica de juros dos EUA é em torno de 4%
Obs: É importante esclarecer que essa média de 4% é bastante influenciada por altas taxas de juros que foram praticadas nos EUA antigamente, mas que não refletem mais a realidade. Por curiosidade, a taxa básica de juros mais alta dos últimos 50 anos nos EUA foi em 1980, chegando à 20%.
Aí vem a pergunta que não quer calar: até quando os EUA irão trabalhar com juros tão baixo? E até quando o Brasil continuará com esse ciclo de baixa na taxa de juros ? Eu não faço ideia ! A única coisa que eu tenho certeza é: se houve valorização somente por causa da queda nos juros, mas não houve crescimento dos lucros, os preços irão voltar à estaca zero quando os juros subirem. Por isso eu ressaltei que esse tipo de valorização não é sustentável.
Outro ponto importante a observar é que alguns estímulos governamentais também ajudam a impulsionar as ações de forma artificial, tais como redução de impostos, benefícios tributários ou subsídios. Isso está acontecendo nos EUA hoje.
Quando o Trump foi eleito, as empresas americanas já não estavam mais conseguindo crescer como alguns anos atrás, então ele decidiu reduzir impostos para deixar mais dinheiro livre na economia, que por sua vez as empresas poderiam investir na ampliação dos negócios e gerar mais empregos.
O lucro das empresas foi impulsionado, fazendo com que justificassem mais valorizações de forma sustentável, certo ? Nesse caso específico, NÃO ! Apesar de haver crescimento nos lucros, não houve crescimento de faturamento na mesma proporção, ou seja, o lucro a mais veio puramente da redução de impostos.
O crescimento sustentável de uma empresa só ocorre de fato quando há aumento na demanda por seus bens e serviços. Já reparou que a inflação dos EUA não sobe de jeito nenhum, por mais que o governo deixe mais dinheiro circulando na economia ? Por que será ? Simples: não há aumento da demanda por bens e serviços.
As empresas estão conseguindo aumentar os lucros de forma artificial através do corte de impostos. Se você observar o resultado de várias empresas individualmente, concluirá que o faturamento está crescendo bem menos do que o lucro.
Até quando essa redução dos impostos e estímulo monetário vão durar? Eu também não faço ideia! Mas sempre haverá um presidente para acabar com a festa e decidir estancar a sangria do caixa do governo, retornando a cobrança dos impostos ou cortando subsídios. No próximo texto eu vou explicar a vocês sobre o impacto da baixa taxa de juros para as empresas de crescimento.