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Selic vs Ibovespa

Roberto Coutinho

Tenho feito muitos Valuations e já posso contar nos dedos as reais pechinchas à disposição do mercado.”

Vamos refletir algumas coisas sobre a queda da Selic para 5,5% ao ano. Logo de cara você verá muitos educadores financeiros dizendo pra você comprar ações. Estão errados? Não, mas também não acredito que estão 100% certos. Será que a variável “taxa de juros” seria a única coisa a ser levada em consideração para a euforia do mercado acionário?

Como a taxa Selic não está mais atrativa sobre o ponto de vista de investimento, as pessoas tendem a sair da zona de conforto e correr mais risco em busca de um retorno maior. Além do mais, taxas de juros mais baixas impulsionam o Valuation  das empresas. 

A meu ver, essa evolução da queda da Selic desde 2016 foi importantíssimo para redução do custo de capital das empresas (custo pra captar recursos financeiros) e, pelo fato dos preços das ações estarem muito descontados na época, isso foi  como uma faísca para colocar fogo de vez. O resultado das empresas de lá cá também melhorou bastante, apesar de ainda estar muito aquém do que os investidores gostariam.

Porém, há contrapontos nessa história que vão muito além do custo de capital mais baixo e renda fixa menos atrativa. Hoje a situação já não é a mesma. Tenho feito muitos Valuations e já posso contar nos dedos as reais pechinchas à disposição do mercado. Isso quer dizer que o mercado já precificou a queda na taxa de juros antes mesmo de acontecer.

Outro ponto a considerar é que a economia do Brasil ainda vai de mal a pior, além do mais, o mercado internacional parece não estar ajudando muito. No tocante ao consumo interno, não adianta ter juros baixos se as famílias não estão equilibradas financeiramente. Não há emprego, o poder de compra das pessoas está péssimo e a facilidade para obtenção de crédito ainda engatinha. Mesmo se tratando das empresas, se nada disso está funcionando bem em conjunto, elas também dificilmente farão investimentos com mais intensidade. Nenhum empresário faz investimentos sem ter demanda. A melhora na lucratividade das empresas (pelo menos da maioria delas), veio muito mais pela redução do custo de capital do que pela expansão da demanda por bens e serviços. 

Portanto, sugiro continuar com uma grana na renda fixa, ao menos uns 20%-30% do seu portfólio, de modo a ter munição nas verdadeiras oportunidades. Isso estou dizendo não só a nível Brasil, mas nos mercados acionários do exterior também.

Além do mais, ainda é possível agir estrategicamente na compra de títulos públicos IPCA e prefixado, de modo a ter retornos mais expressivos com a queda dos juros. Tenho um vídeo no IGTV explicando como isso funciona. Nas opções de renda fixa, acrescentaria ainda a alternativa de investir através da modalidade de peer-to-business lending, no qual é possível emprestar dinheiro para empresas a taxas de juros bem atrativas. Há muitas modalidades novas surgindo por aí. 

Dá próxima que vez que te disserem que a renda fixa morreu, lembre-se de não levar isso ao pé da letra.

Roberto Coutinho – Setembro de 2019
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