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Porque a maioria das pessoas sai insatisfeita dos fundos de investimento

Roberto Coutinho

“Excluindo o fato de que alguns fundos de investimento cobram taxas abusivas e que a maioria não consegue superar os índices de mercado, o investidor é o principal responsável por sabotar ele próprio“.

Eu não sei se vocês já ouviram falar nessa história, mas o Peter Lynch certa vez explicou que várias pessoas conseguiram perder dinheiro investindo no fundo gerenciado por ele, o Fidelity Magellan Fund, um dos melhores da história com média de 29,2% ao ano. Ele geriu o fundo por 13 anos, de 1977 a 1990.

Ele explicou que muitas pessoas entravam no fundo num momento de extrema euforia e que pouco tempo depois, iniciava-se uma correção no mercado. No momento de correção, essas mesmas pessoas que tinham entrado na euforia, ficavam assustadas e vendiam suas cotas por um preço inferior e ainda saíam indignadas por terem perdido dinheiro e achando que o Peter Lynch fazia um trabalho ruim. Tempos depois o mercado se recuperava e o fundo atingia patamares ainda mais altos do que estava antes da correção. Sinto te dizer mas você nunca encontrará um fundo de investimento que só sobe todo o tempo.

Essa mesma história se repete em qualquer lugar do mundo e não seria diferente no Brasil. Para se ter ideia, em janeiro deste ano (2020) ultrapassamos a marca de 1,6 milhão de investidores, enquanto que em janeiro de 2017, ainda não tínhamos nem 600 mil. Enquanto a bolsa de valores continuar se valorizando, certamente esse número aumentará ainda mais.

Quem iniciou na bolsa em janeiro de 2017 e investiu no ETF DIVO11, por exemplo, está com rendimento acumulado de 115%. Já quem iniciou em janeiro de 2019, teria acumulado quase 50%. Ou seja, menos da metade do rendimento do primeiro investidor. Em janeiro de 2019 ainda tínhamos metade dos investidores que temos hoje na bolsa. O que quer dizer que a grande massa entrou mesmo após início da euforia.

Em relação a captação de dinheiro para os fundos de investimento, a história é a mesma: recorde atrás de recorde, atingindo um patamar de 5 trilhões sob gestão.

Por mais que seja questionável se investir através de fundos ou por conta própria, e que o desempenho ao longo do tempo possa ser comprometido pelas excessivas taxas administrativa e de performance, ainda sim a grande maioria dos fundos alcançam o objetivo de construir patrimônio para os cotistas no longo prazo. O que faz as pessoas saírem com trauma do mercado de ações é o fato delas não saberem lidar com isso, principalmente os que não se prepararam intelectualmente e psicologicamente para suportar as adversidades desse mercado.

Certamente a grande maioria não aguentou só ficar olhando os vizinhos e colegas de trabalho conversando sobre os ganhos da bolsa todo o tempo e simplesmente ficar de fora. Agora todos querem participar da festa, mas como não dá tempo para estudar e se preparar minimamente, começa do jeito que dá para não perder a carona. Esse ciclo está sendo como todos os outros e será assim pela eternidade. A lição que fica é que não dá para entrar na renda variável sem a mentalidade correta, mesmo que você tenha ao seu lado o melhor gestor de fundos da história.

Por fim, creio que também falte um trabalho mais intensivo dos fundos de investimento para educar os investidores e prepará-los para a renda variável. Já tem melhorado bastante, mas ainda precisamos fazer mais.

Roberto Coutinho Machado
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