Vejo que está na moda hoje utilizar essa métrica para avaliar investimentos em ações. Para você entender melhor como isso funciona, ele calcula a taxa de crescimento geométrica de qualquer coisa que você queira medir. É como se você quisesse transformar uma taxa de crescimento anual que oscila ao longo do tempo, em uma taxa constante.
Vamos a um exemplo prático! Lucros de empresas costumam ser voláteis, especialmente de empresas cíclicas. Vamos supor que nos últimos 4 anos uma empresa cresceu os lucros dessa forma:
Ano 1: 25%
Ano 2: 15%
Ano 3: 30%
Ano 4: 10%
Ao final desses 4 anos, o lucro teria crescido aproximadamente 100%. Ou seja, se a empresa tinha 100 milhões de reais de lucro há 4 anos, então estaria em 200 milhões de reais hoje.
Sendo assim, o CAGR vai tornar esse crescimento total de 100%, numa taxa de crescimento anual homogênea. A fórmula é a seguinte:
Onde:
- VF = Valor final do que está sendo medido;
- VI = Valor inicial do que está sendo medido;
- N = número de períodos em anos.
O resultado do CAGR será de aproximadamente 20%. Vemos que 20% ao ano se chega no mesmo resultado de 100% em 4 anos. Esse mesmo procedimento pode ser utilizado para qualquer variável que você queira medir o crescimento: CAGR da receita, CAGR do número de usuários de uma plataforma (muito usado para startups), CAGR do seu portfólio de investimentos e assim por diante.
Até aqui ok, tudo entendido. Mas será que o CAGR é tão bom assim mesmo para avaliar ações ? Na minha opinião, NÃO. Muitos estão tomando o CAGR para usá-lo como taxa de crescimento esperada dos lucros ou receita futura. Usar o passado para estimar crescimento futuro é a pior alternativa. Veja a B3, ficou anos com crescimento baixo até que em 2017 o mercado de capitais brasileiro deu uma reviravolta. Começou a crescer 40% ao ano. O contrário também pode ocorrer.
Outro ponto de atenção: o CAGR dos lucros pode divergir muito do CAGR do faturamento. Lucros são muito voláteis e um resultado não recorrente de um ano específico pode esticar o CAGR para níveis fora da realidade do que a empresa realmente tem condições de crescer.
Sempre que olhar para o crescimento dos lucros, nunca se esqueça de olhar para o crescimento da receita. Uma maior margem líquida (lucro/receita líquida) pode sim representar uma melhoria operacional mais duradoura, mas também pode representar apenas um reconhecimento contábil não recorrente.
Caso da JHSF: receita +38%, lucro +500%. Devido à venda de ativos da empresa, o lucro deu um salto. É mais realista considerar um crescimento no lucro em torno de 30% para 2020 do que de três dígitos. Aquisições também trazem bastante volatilidade aos resultados e afeta o CAGR.
Uma empresa que estava crescendo organicamente 10% ao ano, pode simplesmente aumentar em 50% o faturamento e o lucro com uma aquisição relevante, mas não fará sentido usar essa taxa de crescimento para os próximos anos, a não ser que ela continue fazendo grandes aquisições.
E mesmo assim dificilmente conseguiria fazer isso por muito tempo pois provavelmente alcançaria uma alavancagem financeira monstruosa, exceto se fizesse consecutivas emissões de ações, tal como a Sinqia vem fazendo.
Crescimentos de longos períodos são mais sustentáveis quando o crescimento é orgânico, pois demonstra que há grande demanda pelos produtos e/ou serviços vendidos pela empresa (exemplo da Netflix e da Amazon). Empresas de tecnologia ou startups gostam de usar CAGR de usuários da plataforma para fazer o Valuation, ao invés de usar CAGR de receita ou lucro.
Veja o Banco Inter por exemplo, se pegar o CAGR de aquisição de clientes verá um crescimento estrondoso, mas quando olha para o CAGR dos lucros, não passa de uma empresa normal. Se ela vai conseguir converter esses novos milhões de clientes em lucros exponenciais, só o futuro dirá.