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Minha análise sobre o quarto trimestre 2019 da Magalu

Roberto Coutinho

“O que a Magalu (MGLU3) tem que as outras empresas de varejo não tem? Será que o Valuation se justifica? Descubra agora“.

Q

Em termos de receita a Magalu continua mostrando forte crescimento de quase 40% na comparação trimestral, e 27% na comparação anual. Não acredito que o mesmo deve ocorrer em 2020, já que a régua de comparação vai subir bastante. O lucro líquido no trimestre caiu 11,4%, o que  demonstra a perda de rentabilidade da companhia pelas aquisições ruins que vem fazendo (a Netshoes é uma empresa de prejuízos absurdos). 

O que explica então o aumento de 54% do lucro líquido na comparação 2019 com 2018 ? Assim como diversas outras empresas de varejo, houve reconhecimento contábil de créditos tributários ao longo do ano, o que fez com que o lucro líquido saltasse. Para se ter ideia, o lucro líquido chegou a ficar acima do lucro operacional (Ebit) em mais de uma ocasião em 2019. Todos sabemos que não há possibilidade disso acontecer a não ser que haja algum não-recorrente.

O fato é que esses reconhecimentos contábeis não devem mais ocorrer esse ano. O múltiplo Preço/Lucro da Magalu, que na atualidade é 92, na realidade não é apenas esse valor, pois como já falei, o lucro está “artificialmente inflado” por esses reconhecimentos contábeis. Se o  atual Preço/Ebit é de 107, tranquilamente o real Preço/Lucro é acima de 120. No exterior, eu não conheço quase nenhuma empresa que tenha esse múltiplo alto sem que esteja crescendo uns 100% ao ano.

A Amazon tem múltiplo alto assim também, mas o lucro operacional dela nos últimos anos tem explodido (lucro operacional cresce muito mais do que o faturamento), fazendo com que os múltiplos de preço estejam caindo rapidamente ao longo do tempo. Não é o caso da Magalu, que só está perdendo margem. A margem Ebitda teve queda tanto na comparação trimestral quando na anual. É bom ressaltar também que o Ebitda da Magalu cresceu apenas 5,6% na comparação 2019 com 2018. É muito pouco para uma empresa negociada à 90 o Ebitda anual (fechou 2019 em 1 bilhão de reais).

As vendas online crescem mais de 200% ao ano, mas a medida que ganha corpo, fica mais difícil manter essa taxa de crescimento. É mais fácil crescer à taxas elevadas quando se é uma área de negócio pequena perante o negócio de lojas físicas. A tendência é que o online acabe se tornando a área mais relevante no futuro. As vendas nas mesmas lojas tem crescimento de pouco mais de 10% ao ano, mas aí vem o online para virar o jogo e conseguir elevar a receita total da companhia em quase 40%.

A empresa está com pouco mais de 4 bilhões em caixa e poderá fazer mais aquisições para continuar mantendo o nível de crescimento, mas precisará de aquisições cada vez mais relevantes, já que o faturamento anual ultrapassou 20 bilhões de reais. E espero também que sejam boas aquisições e não esse monte de entulho que ela vem comprando que só faz volume de venda mas detona com as margens da empresa. 

É que eu costumo falar com vocês, quando a captação de dinheiro está moleza demais, o critério de investimento das empresas geralmente também cai demais. A Magalu fez uma oferta de novas ações com o preço lá na alturas, encheu o caixa de dinheiro da maneira mais fácil possível. Agora é trabalhar duro para tentar devolver aos acionistas toda a credibilidade que eles estão dando à companhia. No andar da carruagem, acho mais fácil que num futuro próximo os acionistas caiam na real de que pagaram caro demais pela Magalu.

Roberto Coutinho Machado
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