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Fantástico Mundo do Bull Market

Roberto Coutinho

“Num mercado altista (bull market), quase todas as ações vão te trazer felicidade, o resultado de curto prazo te deixa cego”.

Como eu costumo dizer, qualquer estratégia no bull market dá certo. Novos gênios da bolsa aparecerão à todo momento e por todos os lados, inclusive muitos deles com 1 ano ou menos de experiência.

Qualquer tipo de alerta que você tenta fazer é simplesmente em vão, as pessoas são orgulhosas demais para fazer uma autocrítica de um time (leia-se portfólio) de ativos que está indo tão bem. Sabe por que você nunca conseguirá convencer alguém de que uma determinação ação está cara demais, mesmo apresentando todos os argumentos do mundo? Porque a ação vai continuar subindo, com toda certeza desse mundo. Quanto mais um ativo sobe na euforia, mais investidores (leia-se especuladores) aparecerão para impulsionar ainda mais o preço, na tentativa de enriquecimento rápido.

Aí depois de mais 50% de alta do ativo essa mesma pessoa que você tentou alertar ainda vai se aproveitar da situação para tirar sarro de você. “Viu, não estava cara nada, haha”. Essa é a típica reação de quem não sabe o que está fazendo, principalmente se ela não  apresentar qualquer argumento fundamental que comprove a tese dela. 

Muito provavelmente tal investidor nunca parou para olhar o gramado dos vizinhos e perceber que a de todos estão igualmente verdes, brilhantes e impecáveis. Mas ele está preocupado demais em inflar seu próprio ego de novo gênio da bolsa. Vamos fazer a seguinte reflexão rápida: Quais ações estão seguindo o caminho contrário do mercado em geral e se desvalorizando ? Meia dúzia, talvez ?

Você precisa ver a disparidade que existe entre um bull market e um bear market. Eu peguei os dois mercados ao mesmo tempo 2019. O Bull no Brasil e o Bear na China. Não adiantava nada as empresas chinesas apresentarem resultados impressionantes com alto crescimento e rentabilidade, mesmo assim as ações não paravam de cair por conta da tensão da guerra comercial entre China e EUA. No Brasil, viesse o resultado que fosse, as empresas não param de subir. No curto prazo tudo vira mera questão de fluxo de dinheiro. Na China, a saída de capital. No Brasil, a entrada de capital. Porém, o que dita as regras no longo prazo são os fundamentos, nada mais.

No mercado altista, onde até mesmo a medíocre C&A vira celebridade no setor de varejo, o que esperar da racionalidade dos investidores ? Se empresas como Suzano e Via Varejo apresentam resultados desastrosos (e com frequência) e ainda sim sobem, o que esperar de uma empresa comum ou com bons resultados? É claro que vai decolar como um foguete. Nesse cenário que me lembra a Cinderela antes da meia-noite, justifica-se pagar qualquer preço por ativos ruins, imagine então os bons. 

Mas… um belo dia meus amigos, justamente quando menos esperam, O Grande Humilhador mercado (como diria Kenneth Fisher) vem buscar o que é seu: O domínio sobre o jogo. Adora humilhar os investidores de ego inflado e mostrar que quem manda na parada é ele, e sempre será.

Já que você nunca conseguirá ser mais esperto que o mercado, a única coisa que lhe resta é ser humilde em suas análises e expectativas. Nas minhas, por exemplo, eu gosto de usar premissas conservadoras, de modo que é mais fácil eu errar por subestimar a capacidade de uma empresa de apresentar resultados consistentes, do que por superestimar a entrega. E ainda sim acontece de eu errar algumas vezes e pagar um preço que considerava justo, quando na verdade ainda deveria ter investido com uma margem de segurança ainda maior. 

Superestimar resultados pode ser um caminho sem volta. Se suas análises estiverem equivocadas, geralmente você leva anos para recuperar o dinheiro investido ou acaba perdendo a paciência e vendendo com prejuízo. Lembre-se de que no bull market todas as empresas passarão a ter alto potencial na visão de analistas, até mesmo as mais medíocres. “Ainda tem muito espaço para crescer”, ou ”com a melhora da economia ela vai decolar”, são frases que eu mais tenho escutado recentemente. Como dizia Joh Templeton: “Os mercados de alta nascem no pessimismo, crescem no ceticismo, amadurecem no otimismo e morrem por euforia”

Roberto Coutinho Machado

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