"If you're not failing, you're not pushing your limits, and if you're not pushing your limits, you're not maximizing your potential.(Ray Dalio)". Economia.
Link do vídeo:
Uma economia é majoritariamente regida por três forças principais: crescimento de produtividade, ciclos de débito de curto prazo e ciclos de débito de longo prazo.
Fonte: How The Economic Machine Works by Ray Dalio
A principal atividade de uma economia é uma transação. Transações consistem em um comprador e um vendedor, onde o comprador troca dinheiro e/ou crédito por bens, serviços e/ou ativos financeiros do vendedor. Como a lógica do crédito é similar à do dinheiro, se você somar todo crédito e o dinheiro movimentados em uma economia, chega ao gasto total. O gasto total de uma economia é um de seus principais motores econômicos.
Um mercado consiste em inúmeros compradores e vendedores participando de transações por uma determinada coisa. Existem incontáveis mercados, de bens, serviços e ativos mais variados. Uma economia é formada pela união de todos esses mercados.
Pessoas, bancos, governos e negócios engajam-se em transações a todo tempo. O principal comprador e vendedor é o governo.
O governo é divido majoritariamente em duas partes: o governo central que coleta dinheiro via impostos e direciona seu gasto para prover bens e serviços à população e o banco central que regula a quantidade de dinheiro e crédito na economia. Para fazer isso o banco central provém de dois mecanismos: impressão de dinheiro e regular a taxa de juros.
O banco central tem um papel particularmente importante na regulação do crédito. De acordo com Dalio, entender a dinâmica do crédito na economia é extremamente importante por conta de sua característica complexa e volátil, além de ser quantitativamente o integrante mais presente em uma economia.
Assim como há compradores e vendedores em um mercado, também há credores e devedores. Credores normalmente buscam aumentar seu capital enquanto devedores buscam comprar algo que não podem comprar com seu próprio dinheiro no momento. Credores emprestam dinheiro sob a promessa de um pagamento no futuro, que envolve o principal (dinheiro emprestado) + juros. Quando as taxas de juros estão baixas a quantidade de devedores aumenta, uma vez que pegar dinheiro emprestado está mais barato, enquanto a lógica contrária também se observa.
Assim que o crédito se origina ele se torna um débito. Débito é um ativo para o credor e um passivo para o devedor. Após o pagamento do débito, a transação se completa e o ativo e o passivo desaparecem.
O motivo do crédito ser tão importante é que assim que o devedor pega dinheiro emprestado, sua capacidade de gasto aumenta. Gasto é um dos principais motores de uma economia. Isso acontece porque todo gasto também é uma receita. Se você gastou ou ganhou um real é porque outro alguém ganhou ou gastou um real, respectivamente.
Um bom devedor (confiável) possui duas características: muita receita e muito patrimônio. A receita é um bom indicador da capacidade que um devedor tem para pagar suas dívidas e seu patrimônio é um bom indicador da garantia que ele pode dar para seu credor caso não seja possível efetuar o pagamento da dívida.
Como o aumento de crédito aumenta a receita, e o aumento de receita é um bom indicador para um devedor; o crescimento do crédito segue um padrão de crescimento contínuo e cíclico, uma vez que os devedores passam a gastar mais e criar mais receita para outros potenciais devedores/credores. Essa propriedade de auto reforço do crédito gera os ciclos.
A principal forma constante de aumentar sua renda é pelo aumento de produtividade. Ser mais inventivo e eficiente aumentam sua renda, contudo esse é um fator mais determinante para economia no longo prazo.
Ciclos de débito acontecem porquê das existentes formas de crescimento econômico, no curto prazo, a dinâmica do crédito e do débito é a mais influente porque é mais volátil, tem mais flutuações. O débito nos permite consumir mais do que produzimos quando ele é adquirido e nos força a consumir menos do que produzimos quando temos que pagá-lo.
Pense: em uma economia sem crédito, o único modo de aumentar seu gasto seria aumentando sua receita via maior produtividade. Como esse é o único meio de crescimento, e é linear (você aumenta a produtividade, que aumenta sua receita e seu gasto e assim por diante), a economia cresce (exclusivamente) de maneira linear toda vez que algum indivíduo se torna mais produtivo.
Contudo, nós criamos o crédito, e porque nós emprestamos e pegamos emprestado, nós temos ciclos. Isso acontece simplesmente pela natureza humana.
Entenda empréstimos como uma forma de adiantar gastos cujo dinheiro para financiá-los você não possui hoje. Para poder fazer isso, seu “eu futuro” tem que se comprometer a consumir menos do que produz para poder pagar seu débito no futuro. O crédito sempre possui essa dinâmica cíclica. Todo crédito contraído deve ser pagado futuramente, e sua lógica é a mesma. Crédito é extremamente diferente de dinheiro por conta disso. Transações realizadas com dinheiro são efetuadas na hora e não criam ativos e passivos como consequência, são imediatas e muito mais simples.
Hoje em dia existe uma grande confusão entre o que é dinheiro e o que é crédito. Muitas pessoas confundem dinheiro com crédito. A economia americana possui 50 trilhões de dólares em crédito, enquanto tem 3 trilhões em dinheiro.
O crédito é o que permite a economia crescer mais no curto prazo do que o aumento de produtividade. Contudo, no longo prazo o crédito não tem esse poder.
Crédito é ruim quando é utilizado meramente para aumentar o consumo supérfluo, contudo pode ser bom se for utilizado para investir em ativos produtivos que possuem a capacidade de gerar aumento de receita para os devedores e potencializar sua capacidade de pagamento.
É fácil observar como o crédito pode funcionar como o motriz de crescimento no curto prazo. O aumento de gasto de uma pessoa gera maiores receitas, maiores receitas permitem maiores dívidas, maiores dívidas geram maiores gastos e assim por diante… contudo, um ciclo de crescimento tem data marcada para acabar e isso começa na hora que o débito começa a ser cobrado. Quando essa dinâmica ocorre em um curto espaço de tempo, chama-se um ciclo de débito de curto prazo.
No curto prazo o aumento de crédito disponível para a população gera expansões. Essas expansões monetárias aumentam a quantidade de dinheiro/crédito disponível (oferta de moeda). Quando a oferta de moeda aumenta e a quantidade de produtos (bens e serviços) não aumenta proporcionalmente, os preços aumentam. Chamamos isso de inflação.
Como muita inflação não é desejável, bancos centrais aumentam suas taxas de juro quando percebem um aumento de inflação. Com o aumento das taxas, menos pessoas buscam empréstimos e a expansão diminui assim como a inflação. O mecanismo oposto também funciona da mesma maneira, baixa inflação e expansão fazem com que bancos centrais diminuam suas taxas de juro, incentivando as pessoas a pegarem empréstimos e estimulando uma expansão.
No curto prazo, os bancos centrais determinam essa dinâmica. Esses pequenos ciclos de expansão e contração monetária duram em média 5 a 8 anos e se repetem por décadas. Contudo, as expansões de curto prazo normalmente são maiores que as contrações, o que forma uma tendência de acumulo de débito de longo prazo que normalmente só é corrigida mais à frente. Isso acontece por causa da natureza humana, que sempre busca maximizar seu potencial de consumo. Por conta disso, por um longo período de tempo, o crédito e o débito cresce mais do que as receitas. Isso cria o ciclo de débito de longo prazo.
O ciclo de débito de longo prazo ocorre porque as pessoas possuem um viés de entendimento da realidade no curto prazo, e como as expansões de crédito tendem a ser maiores que as contrações; a receita, assim como o valor de ativos, bens e serviços aumentam no curto prazo. Esse sentimento gera uma forte sensação de confiança nos credores que continuam a estender crédito para a sociedade. O que gera essa confiança majoritariamente é o crescimento da receita. A relação débito/receita é um dos principais indicadores da saúde da dívida de uma sociedade.
Naturalmente, esse ciclo vicioso de aumento de débito não pode acontecer indefinidamente. Em algum ponto a relação de débito/renda ou débito/receita chega a um ponto muito elevado e os credores começam a ser mais assertivos na cobrança de crédito. Isso gera uma desaceleração na economia, diminuindo o gasto e a renda e causando uma grande “desalavancagem”, invertendo o ciclo. Isso ocorreu para boa parte do mundo em 2008 e 1929, para o Japão em 1989, para a Inglaterra nos anos 50 e para alguns países europeus na década de 2010 (Espanha, Itália, Grécia, etc).
Esse processo de desalavancagem faz com que os devedores vendam seus ativos em manada, o que gera um grande derretimento de valor nos ativos financeiros e reais, como ações e imóveis. Por consequência, o valor das garantias dadas pelos vendedores cai e um grande risco de insolvência é criado na economia. É nesse momento que os grandes credores mundiais (bancos centrais e privados) entram em apuros. Esse movimento de contração não pode ser combatido com diminuição na taxa de juros porque as taxas de juros normalmente já estão baixas nesse momento.
Existem 4 maneiras aceitas pelos economistas em relação a como conduzir uma desalavancagem. Uma delas é a austeridade. Quando empresas e pessoas cortam gastos elas aumentam a parte da sua renda disponível para pagar suas dívidas. Uma outra forma é através de reestruturação da dívida. Alternativamente, políticas de distribuição de renda, onde pessoas mais ricas transferem uma parte do seu dinheiro para pessoas com menos privilégios, também ajudam no processo. Finalmente, bancos centrais podem imprimir dinheiro para injetar na economia, desvalorizando o tamanho da dívida em relação a quantidade de dinheiro físico na engrenagem econômica.
Inicialmente, políticas de austeridade tendem a ser cogitadas. Contudo, diminuir gastos muitas vezes não gera um efeito de curto prazo efetivo uma vez que menos gastos significam menos receitas para outras pessoas, e um ciclo vicioso de menor renda e menos emprego pode ser criado. Esse efeito deflacionário tende a piorar a relação dívida/receita.
Em seguida, cogita-se a reestruturação da dívida. Isso tende a ocorrer porque quando credores percebem que seus devedores tem um grande potencial de insolvência, seu ativo (crédito) pode passar a valer nada. Como muitos credores não querem que seus ativos desapareceram, eles concordam em reestruturar suas dívidas para torna-las mais fáceis de serem pagas, diminuindo ou tamanho da dívida ou dos juros, ou aumentando o horizonte de pagamento. Apesar da reestruturação diminuir a dívida ela tende a gerar como efeito uma queda ainda mais rápida no valor dos ativos financeiros e reais atrelados a quantidade de crédito disponível, gerando menor renda e tendo efeito deflacionário, o que pode piorar ainda mais a relação dívida/receita.
Normalmente essas políticas ocorrem em um momento de depressão econômica. Durante uma depressão, governos centrais enfrentam grandes dificuldades pois a queda na renda e no emprego, dificulta a arrecadação via imposto, e pessoas em condições mais precárias tendem a precisar de ajuda financeira. Além disso, governos tendem a sentir pressão para aquecer a economia via programas de incentivo ao emprego, o que só pode ser financiado através de mais gastos.
Como há uma grande pressão para mais gastos e esse dinheiro precisa vir de algum lugar, procura-se na economia quem pode financiar o governo. Uma vez que as pessoas com menos ativos já estão em condições alarmantes durante depressões, os governos tendem a se voltar para os mais ricos. Daí sai a terceira proposta de desalavancagem, políticas de distribuição de renda, taxando mais as pessoas que possuem a maior parte da riqueza (que tende a ser concentrada na mão de poucas pessoas), para dar as pessoas que não tem. Essa dinâmica muitas vezes gera uma grande comoção social e fortes ressentimentos entre as diferentes classes. Como esse tipo de movimento possui um grande custo político e social, ele tende a ser evitado por governos que não desejam disruptar suas estruturas socioeconômicas.
Indo para a última opção, bancos centrais começam a imprimir dinheiro. Diferentemente das outras propostas, impressão de dinheiro é inflacionário e estimulante para a economia. Esse dinheiro é utilizado pelos BCs para comprar ativos financeiros e dívida. Isso gera um efeito positivo no preço desses ativos e volta a fazer as pessoas mais ricas e devedores potenciais mais confiáveis. Contudo, esse movimento só ajuda as pessoas que possuem ativos financeiros.
Para contornar essa situação, os bancos centrais comprar títulos públicos (dívida) dos governos centrais, que por sua vez utilizam esses recursos para financiar atividades de estímulo econômico que geram emprego e renda e/ou simplesmente transferir dinheiro para a população geral.
Naturalmente, esse tipo de política pública inflacionária não pode ser feito por tempo indeterminado. Por isso, governos precisam equilibrar a impressão de dinheiro com os outros tipos de política. Se essas políticas são conduzidas de maneira correta, uma desalavancagem pode ser extremamente bem-sucedida.
Desalavancagens bem-sucedidas são extremamente importantes para uma política macroeconômica de longo prazo tanto no eixo fiscal, quanto monetário estimule o crescimento econômico real de uma sociedade.
Mas imprimir dinheiro não pode gerar inflação descontrolada?
Pode. Mas não irá se o aumento de dinheiro for acompanhado de uma diminuição da dívida. A inflação é gerada pelo aumento da oferta de moeda (dinheiro + crédito) e pelo aumento de gastos. Se o aumento de dinheiro circulante for utilizado para diminuir a proporção da dívida em relação a renda, esse tipo de política não geraria uma inflação descontrolada.
No final das contas, o importante é estimular o crescimento econômica tal qual a taxa de crescimento da economia seja maior que a taxa de juros. Assim, a relação dívida/renda pode cair no longo prazo sem a necessidade de políticas públicas dolorosas e mecanismos de ação dos bancos e governos centrais.
Erick Loyola