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As armadilhas do Valuation

Roberto Coutinho

“Em épocas de juros baixo e otimismo em relação à macroeconomia do País, é natural que o Valuation das empresas fique maior: o custo médio ponderado de capital (wacc) cai e a projeção de fluxos de caixa futuro aumenta. No entanto, devemos lembrar que tudo isso é cíclico”.

Hoje você vê analistas aumentando constantemente o valor justo das empresas. Já amanhã, em outro cenário, talvez com taxas de juros maiores e economia mais fraca, a coisa se inverte. 

Exemplo: em 2015 com a economia no fundo poço e juros nas alturas, vamos supor que o Valuation de uma empresa seja de 10 reais a ação. Conforme a economia vai melhorando e você vai ajustando os parâmetros, isso vai para 15. Depois para 20, e provavelmente no auge da euforia, estará em 30. Então, quando você menos espera, por mais que monitore os dados econômicos, as coisas começam a se inverter. 

Inflação disparando, juros aumentando, pleno emprego, indústrias produzindo à base de hora extra (há  quanto tempo não ouvimos falar disso na indústria brasileira?), ao mesmo tempo que começam a aparecer sinais de desgaste: o consumo desacelera, a geração de empregos cai e o poder aquisitivo das famílias fica pressionado pela alta inflação e pelo alto nível de endividamento gerado por anos de forte consumo. 

O problema dessa história toda é que ao longo desse percurso você pagou 10 reais na ação, mas também comprou próximo de 30, na esperança da continuidade do poderio econômico por mais alguns anos. Mas agora, com a nova realidade macroeconômica, o Valuation não para de cair. Parece que você caiu na armadilha do Valuation.

Isso vale tanto para ações de lucros cíclicos e não cíclicos. Por exemplo: usando um valuation mais simples, conhecido como avaliação relativa, se numa economia fraca o Preço/Lucro justo da Weg é de 15, numa economia forte o mercado poderá considerar como “justo” um Preço/Lucro de 60, 80, talvez 100. 

Todos no fundo do consciente sabem (menos os sardinhas, é claro) que estão ferindo os princípios da margem de segurança, mas vivemos tentados a acreditar que estamos fazendo um bom negócio. Afinal, o futuro do País é “promissor”. Para empresas de lucros cíclicos, a coisa ainda pode se tornar pior, pois você está fadado a voltar à estaca zero, no seu Valuation original de 10 reais.

E qual o segredo então? O segredo é ter consciência de que Valuation não é tudo, mas sim uma parte do quebra-cabeça de sua análise. A outra parte do segredo é você continuar a fazer aportes somente enquanto a margem de segurança ainda é alta. Estabeleça os limites com base no seu racional e use premissas  conservadoras, sem se deixar levar pela euforia. É difícil, mas é possível.

Roberto Coutinho Machado
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