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Análise do acordo da Centauro com a Nike.

Roberto Coutinho

Apesar de eu não ter entrado no IPO da Centauro, eu fui defensor de que o Valuation estava atrativo na época. Porém, após subir 300% desde então, o atual valor de mercado da Centauro não me agradava muito, principalmente pelo fraco histórico dos últimos anos. Com o acordo de parceria com a Nike e a economia melhorando, acendeu uma esperança de novos tempos“.

Q

Primeiro de tudo eu quero que você entenda o que foi esse acordo. A Centauro NÃO comprou a Nike, mas sim o direito de tomar posse das operações brasileiras pelos próximos 10 anos. Ou seja, quando a empresa vai fazer os cálculos de Valuation do acordo, leva-se em consideração apenas o fluxo de caixa que será gerado pelos próximos 10 anos. Não há a parte do cálculo do valor terminal. O atual valor de mercado da Nike global é de 4 vezes o faturamento anual. Sendo assim, é provável que se houvesse a venda das operações da Nike do Brasil para a Centauro, a aquisição teria ficado no mínimo em 8 bilhões de reais, uma vez que a Nike fatura hoje, 2 bilhões de reais no Brasil.

A Centauro pagou 900 milhões de reais pelo direito de exclusividade e poderá por exemplo, abrir lojas com a marca Nike, o que a meu ver pode impulsionar os negócios ainda mais. Obviamente que o cálculo que a Centauro fez, levou em consideração também o crescimento esperado das vendas da Nike no Brasil, para a próxima década. O fato da Centauro ter de pagar royalties para a Nike durante esses 10 anos, acredito que a margem líquida obtida pelos operações brasileiras não ultrapasse 5%. Lembrando que a margem líquida global da Nike é de 10%. Levando isso em consideração, a Nike poderia adicionar à Centauro cerca de 100 milhões de reais por ano, o que elevaria o lucro da Centauro em cerca de 50% em relação ao atual nível de lucro.

É preciso lembrar também que nessa sinergia entre os negócios não haverá a incorporação de 100% dos resultados da Nike, uma vez que a Centauro já era uma das distribuidoras dos produtos Nike antes do acordo. Porém, a Nike do Brasil é quase do tamanho da Centauro e o impacto nos resultados fatalmente será muito expressivo logo à curto prazo.

 Eu fui em busca de algumas empresas do setor de varejo esportivo nos EUA para avaliar um pouco mais profundamente se o valor de mercado atual da Centauro faz sentido. Veja na tabela abaixo alguns indicadores de rentabilidade e de precificação da Centauro e de mais duas empresas americanas do mesmo ramo de negócio.

  Crescimento Margem Ebit Margem líquida ROE P/L P/Ebit P/VENDAS P/VP
LULULEMON (LULU) 22% 21% 15% 37%  56.0      48.0            8.50  19.0
SKECHERS (SKX) 15% 10% 7% 15%  17.0      14.0            1.20   2.5
CENTAURO (CNTO3) 10% 12% 10% 20%  53.0      40.0            4.30   10.0

Analisando a tabela é possível observar que a Centauro tem uma rentabilidade intermediária em relação a dois de seus paressão seria sensato que a Centauro tivesse múltiplos de preço parecidos com o da Lululemon, tal como um P/L de aproximadamente 50, pois a Lululemon tem rentabilidade melhor e cresce mais (ou pelo menos crescia mais). Além disso, a Lululemon já está com Valuation bastante esticado em relação às demais empresas de varejo (ampliando para seguimentos não-esportivos). Não seria uma base de comparação conservadora, mesmo sabendo que a rentabilidade dela massacra a grande maioria das empresas de varejo.

Para que a Centauro faça jus ao valor de mercado atual, ela precisará ser agressiva no crescimento e continuar a fazer excelentes acordos como esse da Nike. Não sabemos se ela continuará nessa pegada, mas a história começa a ficar mais interessante. O crescimento dos últimos anos foi de apenas 10% ao ano, mas devemos lembrar que o País estava um caos. Não seria sensato presumir que ela continuaria a crescer a essas taxas mais amenas. Em 2019 o crescimento já está sendo mais expressivo.

Devemos sempre lembrar que múltiplos de preço elevados requerem crescimento elevado para fazer sentido. Quem entrou no IPO certamente se deu muito bem e não acho que os acionistas deveriam se preocupar com esse Valuation “perigoso”, andando no fio da navalha e pressionado por mais crescimento. Apenas continue controlando seu risco e não se exponha demais à empresa, pois caso esse crescimento esperado não venha, a coisa vai ficar feia. Já para quem ainda não se tornou acionista da empresa, eu teria muito mais receio de entrar agora.

No mercado acionário, dizer NÃO à uma oportunidade de investimento com pouca margem de segurança na maioria das vezes traz muito mais benefícios do que dizer sim. Na dúvida eu escolho sempre ficar de fora. Oportunidades no mercado acionário global é o não faltam.

Roberto Coutinho Machado
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